Roger Scruton*
Não causa surpresa o fato de pessoas decentes, céticas, ao observarem o ressurgimento em nossos tempos de cultos supersticiosos, do conflito entre liberdades seculares e éditos religiosos, e do radicalismo islâmico assassino, se mostrarem receptivas às polêmicas anti-religiosas de Richard Dawkins, Christopher Hitchens e outros. O "sono da razão" trouxe monstros, como Goya previu em sua gravura.
Hitchens é um homem inteligente e altamente erudito que reconhece que o argumento mais útil para ele era bastante conhecido há 200 anos. Mas pensadores do Iluminismo, tendo mostrado que as alegações da fé não contavam com fundamentação racional, não desdenharam a religião, como alguém poderia desdenhar uma teoria refutada. A facilidade com que as doutrinas comuns da religião podem ser refutados os alertou para a idéia de que a religião não é, em essência, uma questão de doutrina, mas outra coisa. E decidiram descobrir o que poderia ser.
Para os pensadores no período imediato pós-Iluminismo, não era fé, mas fés, no plural, que compunham a essência básica da teologia. Para os pensadores pós-Iluminismo, os sistemas de crença monoteísta não estavam relacionados aos mitos e rituais antigos da mesma forma que a ciência para a superstição, ou a lógica para a magia. Em vez disso, eles eram cristalizações de uma necessidade emocional. Um mito não descreve o que aconteceu em algum período obscuro antes da contagem humana de tempo, mas algo que acontece sempre e repetidamente. Ele não explica as origens causais de nosso mundo, mas recita sua permanente importância espiritual.
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