Esse é um tema recorrente. A cobertura dos meios massivos sobre a presença dos idosos na sociedade. Como os idosos aparecem na tv, rádio e jornais impressos. Na publicidade, nas novelas e nos comerciais. Na verdade, é saber como a mídia produz socialmente estes sujeitos sociais. Nesse estudo, conheci a produção teórica da professora Malu Fontes, jornalista, mestre e doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Trata-se de um belíssimo texto: O Lugar da Velhice na Sociedade de Consumo. Expressa com muita clareza e objetividade a construção social da velhice e de como a mídia reproduz e fortalece essa construção no nosso cotidiano, invadindo corações e mentes. Recheados de preconceitos e tabus para divulgar e cristalizar uma imagem negativa do envelhecimento humano. Eu tive acesso a ele(o texto) por conta do estudo que estou fazendo na Faculdade de Serviço Social- mestrado- da nossa Universidade Federal Juiz de Fora.
Tentarei aqui livremente replicar algumas idéias e pensamentos que a professora Malu me impregnou. São reflexões muito bem colocadas. Nesse entendimento, a autora em questão, afirma que embora a população do mundo tenha conquistado nas últimas décadas cerca de 20 anos de vida a mais, o fato é que, a sociedade ainda não encontrou mecanismos e instrumentos para se apropriar de maneira adequada dessa conquista. Nos últimos anos, prossegue a professora Malu, emergiram discursos, políticas e propostas afirmativas da velhice. No entanto, de acordo com ela, a realidade social em suas práticas, ainda não reflete em termos quantitativos e qualitativos a população de velhos hoje existentes no mundo. A verdade é que as dinâmicas sociais, as políticas públicas e o repertório da comunicação de massa ainda parece tatear, às cegas em busca de projetos e modelos que abranjam a inclusão da velhice como fenômeno e a retire dos projetos superficiais de positivação, que de um modo geral, se inscrevem tão-somente na ordem da semântica sem alteração do sentido da velhice na sociedade e na cultura.
Enquanto todos os valores e comportamentos culturais vigentes têm como parâmetro uma sociedade de jovens, a demografia do mundo aponta para uma realidade em que a população idosa torna-se majoritária, tornando evidente a dissonância entre a demografia populacional do mundo e a forma como a sociedade, as políticas públicas e a direção do olhar cultural do ocidente estão estruturados. Um exemplo do quanto a velhice não faz parte da agenda cultural contemporânea é o repertório dos discursos midiáticos, majoritariamente ancorados no projeto de eterna juventude, com destaque para o papel da publicidade, cujo discurso é predominante condenatório ou jocoso em relação ao conceito de velhice, associado sempre ao desprezível.
Tendo em vista a sua função de agente publicizador de discursos sociais, é fundamental o papel desempenhado pelo complexo de mídias e suas falas no processo de ajuste entre o cenário demográfico e o vocabulário cultural e social. Sobre esse aspecto, a professora Malu, traz a fala de Scherrmacher que defende: “a mudança tem que começar pelas propagandas, pelos filmes, pelos programas de tv. As pessoas mais velhas não podem mais ser retratadas sempre como bizarras, loucas ou patéticas. Precisamos de uma campanha de imagem positiva para o envelhecimento. Crianças de 4 anos de idade que nunca viram desenho animado se comportavam naturalmente quando estavam com idosos. Aos 6 anos, depois de assistirem a vários filmes de animação, as mesmas crianças passaram a ter medo de pessoas mais velhas. Não é à toa. As histórias infantis retratam os velhos como maus, estúpidos ou horríveis. Os jovens não são os únicos que devem mudar o conceito em relação aos idosos. Os velhos também devem modificar a imagem que têm de si mesmos. É preciso amenizar o culto a juventude que existe hoje”(SCHELP, p.14-15).
Nesse cenário a persistir, o velho é um elemento dissonante, o indivíduo trafegando irreversivelmente na contramão das infovias que levam ao futuro. Apesar do surgimento de políticas afirmativas para a velhice, o fato é que a sociedade mantém o velho à margem do seu funcionamento e não tem soluções para a sua inserção. Ou seja, ao não dispor de estruturas sociais habilitadas para resignificar, efetivamente, os papéis dos velhos, a sociedade, na prática, continua condenando-os ao isolamento. E é justamente nesse núcleo de tarefas por fazer, em relação à velhice e à reinterpretação que ela hoje reivindica, que os meios de comunicação de massa, na condição de agentes publicizadores de boa parte dos discursos que estruturam a sociabilidade contemporânea, têm como função determinante: incluir a vellhice e seus desdobramentos temáticos em sua pauta, afirmando-os ou debatendo os critérios que fazem com que ela seja tratada à partir da ótica da rejeição, da condenação ou da caricatura, como é comum na pauta discursiva midiática vigente. Ou como quer Marilena Chauí: “Como arranjar as coisas de tal modo que o presente não seja adverso, mas grávido de futuro?
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