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terça-feira, 20 de julho de 2010

Somos Todos (in)finitos.


Desde tempos imemoriais, a espécie humana busca uma resposta para o mistério da morte. Para os que procuram entender a morte, ela é uma força altamente criativa. Os grandes valores da vida, muitas vezes, originam-se da reflexão sobre a morte. A meta da maioria dos filósofos tem sido a de elucidar o seu significado. Um dos maiores filósofos de todos os tempos, Sócrates entendia que filosofar era estudar sobre a morte. Thomas Mann, grade escritor alemão, dizia que sem a morte haveria poucos poetas na terra. e a precursora da tanatologia moderna, Dra Elizabeth Klubber-Ross afirmava que “a chave para o problema da morte abre a porta da vida!”
Mesmo aceitando a morte como parte integrante da vida, é difícil morrer e o será sempre, porque isto significaria renunciar a vida. A idéia de morte nos traz permanentemente a consciência de nossa vulnerabilidade e de que nenhum avanço tecnológico nos permitirá dela escapar.
O modo de vida e a cultura de consumo deste início de século vinte e um são ricos em exemplos de busca da juventude eterna, do ideal de força e de beleza, da busca de riqueza e da impossível imortalidade. Repele-se o que é fraco, pobre, feio e velho. Repele-se, afinal, o fracasso, a perda e a morte. As prisões estão cheias de pobres, quase não há ricos. Cada vez enche-se mais de velhos nos asilos. As propagandas de televisão e revistas são feitas com modelos jovens, que aparentam riqueza e são muito bonitos. Para a mídia, o idoso chega a personificar o lado ruim da vida, a aproximação da morte. Em muitas ilustrações, mostra-se a morte como um velhinho encurvado, roupas sujas e rasgadas, barbas brancas e ralas, face de dor e sofrimento, apoiado por uma bengala!
Quando temos ainda toda a vida pela frente, criar filhos, trabalhar e sonhar com novos projetos, a morte nunca é pensada e aceita. Ela é uma intrusa. A doença, o imprevisto, os acidentes quando aparecem, coloca-nos frente a frente com a morte. Como nunca a encaramos devidamente, gera em nós muita ansiedade, muita revolta e muita angústia. Assim, lutamos para viver intensamente, como se isto nos afastasse ainda mais da morte.
A reflexão sobre a morte, sobre a nossa própria morte e de nossos familiares e amigos pode demonstrar que temos uma boa noção de realidade e de que somos finitos. Com isto, poderemos conviver e aceitar melhor as perdas que a vida irá nos infligir. Como dizem os psicólogos, refletir sobre a morte, procurando entendê-la e aceitá-la, faz bem para nossa saúde mental. Não é errado chorar uma perda, ficar por algum tempo deprimido e triste pelo falecimento de uma pessoa querida. O luto também faz parte de nossas vidas. No início, custamos a acreditar que a vida desta pessoa possa ter acabado, sentimos um vazio muito grande, uma tristeza muito grande, achamos que nunca mais iremos recuperar. Porém, o tempo será um grande amigo e conselheiro, e nossas feridas, aos poucos, irão cicatrizando. Nossa tristeza profunda tornará uma lembrança mais amena e menos sofrida, de uma pessoa que amamos e que, de alguma forma, ainda está conosco.
O apego excessivo à vida e a negação da morte deixam o homem solitário e desprotegido diante de sua ilusória fantasia de poder, que sucumbe, perante o irracional da sua finitude. A desvalorização do mito da morte, fruto de uma cultura moderna e sem símbolos, baseada na razão e na tecnologia, deixa o homem atual distanciado do confronto da morte e de outros símbolos de transformação e de vida!
A medicina, atualmente, tem a morte como a grande inimiga e seus profissionais, apesar de começar seus estudos sobre cadáveres, não estão preparados para o confronto inevitável com a morte. A medicina, que tem como função a luta contra a morte, parece não suportar a possibilidade de perder esse embate, criando negações, prolongando a vida de maneira desnecessária e artificial nos centros de terapia intensiva, de modo frio, longe do convívio afetuoso da família.


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