
Ran e a velhice
Tiago de Camargo Neves Lafer*
Ruth Gelehrter da Costa Lopes**
(Ran, Japão 1985. Direção: A. Kurosawa)
Sinopse
Senhor feudal no Japão, ao aproximar-se da velhice, promove uma sucessão desastrosa onde empossa seus dois filhos mais velhos e ambiciosos e bane seu filho mais novo, o único que realmente o ama. Confiando no amor dos filhos e sem poder real, o Daymio sofre a rejeição dos filhos mais velhos que o usam e descartam-no num jogo político pelo poder do clã. Consumido pela rejeição e pela culpa o senhor feudal enlouquece e vaga mal dizendo a si mesmo e aos deuses. No fim, acolhido pelo filho mais novo que vai a busca dele, ele percebe a dimensão dos seus erros, porém essa breve esperança cede espaço à tragédia que o abate: a morte desse mesmo filho. No fim das contas toda sua linhagem é obliterada.
Observação sobre a velhice
A velhice nesse filme desempenha um papel central. É na pele do velho que os pecados da humanidade são sentidos. No contexto de um mundo controlado pela força a velhice se apresenta como uma fragilidade inescapável. Se a rejeição e a traição são temas centrais, a velhice representa a um só tempo, a traição e rejeição da natureza ao homem. A morte representa a possibilidade de descanso que é negada até o ultimo momento. Sadicamente o filme prolonga o sofrimento do Daymio, pois não é na velhice que se atinge sabedoria, mas sim através do sofrimento. O medo da solidão e da morte presentes na velhice impulsionam a surdez à verdade. A solidão e a morte são fronteiras palpáveis que restringem as aspirações humanas. O velho, em ultima análise, representa o tema vexatório da restrição.Se o ser humano é tão surdo frente a sua fraqueza, em suas múltiplas acepções, é na velhice que se torna inescapável esse enfrentamento.
Temas principais
O filme é multitemático, no espírito da peça. Alguns temas despontam: rejeição, velhice, traição, poder, relações filiais. Mas o tema principal do filme é a dificuldade de se obter sabedoria. Unicamente pessimista acerca da condição humana o filme elege o Senhor feudal como representante da espécie humana: orgulhoso, teimoso, injusto, ambicioso e vaidoso,frágil, temente e surdo à verdade (seja ela qual for). Na condição de velho e num mundo permeado pelas relações de poder Ichimonji tem sua identidade dilapidada ao ponto de nem mesmo a morte o aceitar até que ele se aperceba da dimensão dos seus erros e das limitações do homem.
Sobre o diretor
Akira Kurosawa é um dos grandes nomes do cinema mundial, Tendo em sua filmografia obras primas como “Sete samurais”, “Dersu Uzala” e “Ran”. Diretor tido como “ocidental de mais” pelos japoneses, seus filmes tiveram mais reconhecimento no ocidente e consequentemente suas produções mais ousadas foram financiadas pelo lado leste do globo. Seu filme “Sete samurais” foi adaptado para o formato “Bang Bang” em “Sete homens e um destino” estrelado por Clint Eastwood. Outro dado que merece menção são suas adaptações das peças de W. Shakespeare, sendo “Ran” (“Rei Lear”) uma delas e “Trono manchado de sangue” (“MacBeth”) outra.
*Tiago de Camargo Neves Lafer é aluno de Psicologia da PUCSP.
*Ruth Gelehrter da Costa Lopes é professora da eletiva “Velho DO e NO Cinema: olhares e imagens do envelhecimento humano”, do Curso de Psicologia, PUCSP, ministrado no segundo semestre de 2009.
Tiago de Camargo Neves Lafer*
Ruth Gelehrter da Costa Lopes**
(Ran, Japão 1985. Direção: A. Kurosawa)
Sinopse
Senhor feudal no Japão, ao aproximar-se da velhice, promove uma sucessão desastrosa onde empossa seus dois filhos mais velhos e ambiciosos e bane seu filho mais novo, o único que realmente o ama. Confiando no amor dos filhos e sem poder real, o Daymio sofre a rejeição dos filhos mais velhos que o usam e descartam-no num jogo político pelo poder do clã. Consumido pela rejeição e pela culpa o senhor feudal enlouquece e vaga mal dizendo a si mesmo e aos deuses. No fim, acolhido pelo filho mais novo que vai a busca dele, ele percebe a dimensão dos seus erros, porém essa breve esperança cede espaço à tragédia que o abate: a morte desse mesmo filho. No fim das contas toda sua linhagem é obliterada.
Observação sobre a velhice
A velhice nesse filme desempenha um papel central. É na pele do velho que os pecados da humanidade são sentidos. No contexto de um mundo controlado pela força a velhice se apresenta como uma fragilidade inescapável. Se a rejeição e a traição são temas centrais, a velhice representa a um só tempo, a traição e rejeição da natureza ao homem. A morte representa a possibilidade de descanso que é negada até o ultimo momento. Sadicamente o filme prolonga o sofrimento do Daymio, pois não é na velhice que se atinge sabedoria, mas sim através do sofrimento. O medo da solidão e da morte presentes na velhice impulsionam a surdez à verdade. A solidão e a morte são fronteiras palpáveis que restringem as aspirações humanas. O velho, em ultima análise, representa o tema vexatório da restrição.Se o ser humano é tão surdo frente a sua fraqueza, em suas múltiplas acepções, é na velhice que se torna inescapável esse enfrentamento.
Temas principais
O filme é multitemático, no espírito da peça. Alguns temas despontam: rejeição, velhice, traição, poder, relações filiais. Mas o tema principal do filme é a dificuldade de se obter sabedoria. Unicamente pessimista acerca da condição humana o filme elege o Senhor feudal como representante da espécie humana: orgulhoso, teimoso, injusto, ambicioso e vaidoso,frágil, temente e surdo à verdade (seja ela qual for). Na condição de velho e num mundo permeado pelas relações de poder Ichimonji tem sua identidade dilapidada ao ponto de nem mesmo a morte o aceitar até que ele se aperceba da dimensão dos seus erros e das limitações do homem.
Sobre o diretor
Akira Kurosawa é um dos grandes nomes do cinema mundial, Tendo em sua filmografia obras primas como “Sete samurais”, “Dersu Uzala” e “Ran”. Diretor tido como “ocidental de mais” pelos japoneses, seus filmes tiveram mais reconhecimento no ocidente e consequentemente suas produções mais ousadas foram financiadas pelo lado leste do globo. Seu filme “Sete samurais” foi adaptado para o formato “Bang Bang” em “Sete homens e um destino” estrelado por Clint Eastwood. Outro dado que merece menção são suas adaptações das peças de W. Shakespeare, sendo “Ran” (“Rei Lear”) uma delas e “Trono manchado de sangue” (“MacBeth”) outra.
*Tiago de Camargo Neves Lafer é aluno de Psicologia da PUCSP.
*Ruth Gelehrter da Costa Lopes é professora da eletiva “Velho DO e NO Cinema: olhares e imagens do envelhecimento humano”, do Curso de Psicologia, PUCSP, ministrado no segundo semestre de 2009.
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